Na Paraíba 73 mil jovens se tornaram mães entre 2008 e 2012 e 2.830 eram adolescentes entre 10 e 14 anos.

Entre 2008 e 2012, 73.749 jovens de até 20 anos ser tornaram mães na Paraíba. Entre elas,  2.830 eram adolescentes com idades entre 10 e 14 anos quando tiveram o primeiro filho, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES). A assistente social Elizabeth Alcoforado, responsável por acolher as mães na maternidade Cândida Vargas, em João Pessoa, explica que toda adolescente é tratada como gestante de risco por causa da idade. E os desafios não param por aí.
A advogada Naara Viana está nas estatísticas de gravidez precoce. Aos 31 anos, ela é mãe de Maria Eduarda, que completa 15 anos na sexta-feira (14). Hoje, ao ver a filha chegar à idade que ela tinha quando engravidou, tem ainda mais certeza da loucura que foi a experiência. “Deus me deu um presente quando eu merecia era um castigo. Foi uma história feliz, mas que teve muita dificuldade”, brinca, destacando ter consciência do preço alto que pagou pelo sucesso da sua história.
Ao lembrar do susto que foi saber da gravidez aos 15 anos, ela conta que não foi uma experiência boa por ter sido fora do contexto. “Tenho plena convicção de que não tinha um pingo de juízo, eu achava que era dona de mim. Era um prazer abrir mão pra ficar com ela, mas tenho consciência de que perdi muita coisa”, avalia. Na lista das perdas estão o estudo despreocupado, a convivência mais próxima com as amigas da escola, a experiência das festas da adolescência.
A novidade obrigou Naara e o namorado a amadurecerem e assumirem compromissos da vida de adulto, um caminho que ela considera sem volta. “Com 19 anos eu tinha que fazer faculdade, estagiar, trabalhar e cuidar da minha filha. Enquanto os amigos estavam viajando pra curtir o São João, eu estava fazendo fogueira e soltando fogos com ela. Não me arrependo de nada, mas poderia ter sido tudo mais tranquilo e simples”, avalia.
O apoio das famílias, no entanto, permitiu que ela e o namorado não tivessem prejuízo em um item: o estudo. Mesmo assim, Naara conta que a escolha da profissão, por exemplo, já não foi tão livre porque precisou considerar questões muito mais práticas do que um adolescente comum tem em mente. “Tudo na minha vida é assim até hoje: tenho que ser objetiva porque tenho uma filha adolescente em casa, não posso ficar devaneando”, justifica.
Hoje Naara está casada com o pai da sua filha, está grávida de um menino e comemora o fato de ter em casa uma adolescente “bem mais fácil” do que ela mesma foi, mas não perde a oportunidade de ensinar a Maria Eduarda o tamanho da responsabilidade de ter um filho. “Acho que a gravidez às vésperas dos 15 anos dela foi, inconscientemente, uma forma de dizer que não é brincadeira”, diz. Além do segundo filho, a advogada se prepara para começar a ver a filha viver tudo que ela não viveu por conta da gravidez precoce.
De acordo com a assistente social Elizabeth Alcoforado, a gravidez na adolescência provoca uma mudança completa na vida da nova mãe, o que faz com que exista uma grande possibilidade de rejeição e depressão pós-parto. “Não temos dados que comprovem ou meçam esse aspecto, mas toda mulher, adulta ou não, passa pelo estresse pós-parto que pode se transformar em depressão. A adolescente pode criar rejeição por causa da grande mudança na vida e da cobrança social por ter sido mãe precocemente”, alerta.
Essa situação especial das adolescentes que se tornam mães exige cuidados também especiais da equipe que acompanha a gravidez. “Nós fazemos o acompanhamento no ambulatório, durante o pré natal. Além dos médicos que atendem exclusivamente as gestantes adolescentes, também existe o acompanhamento das psicólogas”, explica Elizabeth.
Na Maternidade Cândida Vargas, por exemplo, as assistentes sociais acompanham as adolescentes pra ver as condições de residência, de estruturação da família e renda para ver se é possível vinculá-la a algum programa social, para que receba enxoval ou participe do banco de leite, se necessário. Em casos em que a mãe também vive em situação de vulnerabilidade, o acompanhamento fica ainda mais complexo.
Se a adolescente se enquadrar, será orientada para pegar o leite no Hospital Universitário em João Pessoa. "Se ela estiver vinculada à escola, nós daremos ênfase na questão da escolaridade, para que ela seja encaminhada para o que chamamos de Licença Especial, que é o acompanhamento depois que ela tem o bebê, para que continue a estudar. Por lei, é garantida essa assistência educacional, para que ela não precise interromper o percurso escolar”, explicou Elizabeth.
Fonte: G1 Paraíba

Texto: Andréia Martins e Aline Oliveira
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