Segundo ele, querem tirá-lo “não
através do voto, mas de todo tipo de instrumento que se possam ter…”. E isso no
Brasil e na América do Sul – prosseguiu – hoje não é tão conspiratório, é real
e concreto”.
“Todos sabem do papel da Paraíba,
no meu Governo, na resistência ao golpe de 2016”, disse o ex-governador da
Paraíba na entrevista, cujo resumo de Wellington Farias e o vídeo completo da entrevista,
publicamos a seguir:
Entrevista dada por Ricardo ao canal Política por
Elas:
É público e notório que sou um
alvo do mais profundo lawfare (uma forma de guerra na qual o direito é usado
como arma, com manobras jurídico-legais como substituto de força armada visando
alcançar determinados objetivos) que a Paraíba já viu. Se pegar a Lava Jato e
aquilo que aconteceu com o presidente Lula, não chega nem próximo ao que está
acontecendo aqui. Aqui envolve praticamente todos os órgãos que poderiam ter
alguma relação de punição comigo. Aqui envolve TSE, Tribunal de Justiça, Vara Família,
Tribunal de Contas, Secretaria da Fazenda. Enfim, uma série de órgãos que
tentaram de todas as formas me atingir.
O caso específico do TSE, esse
processo estava arquivado há dois anos; não é usual o TSE retirar um processo
que estava arquivado, por decisão de um ministro, recolocá-lo no debate,
refazer o parecer e julgá-lo faltando três dias para a eleição, como foi o caso
das eleições 2020. Eu não tinha a menor dúvida e os números que eu tinha
demonstravam que eu iria para o segundo turno. É claro que vou apelar da
decisão do TSE, além do que os oito anos se vencem em 2022; não é do ano
passado, é de 2014 que começa a contagem do tempo. Portanto, eu acho que nesses
casos o grande juiz deve ser o povo; as pessoas sabem como governei; sabem como
essa Paraíba mudou.
Mudou na relação interna dos
Poderes, e isso desagradou a muita gente… Mudou nos investimentos, para tornar
a Paraíba mais igual e mais democrática. E acho que esse julgamento a população
é que tem que fazer, mesmo com essa articulação, com essa grande aliança de
ódio que montaram aqui dentro contra mim. Mas eu costumo dizer que não tenho
ódio, mas também não tenho medo. Eu caminho com a cabeça erguida e a espinha
ereta e com a consciência muito tranquila.
Reprovação de contas
Totalmente uma decisão
fundamentada em interesse político. E eu, sinceramente, tenho constrangimento,
porque eu sei da pressão advinda dessas questões da Operação Calvário sobre o
Tribunal de Contas do Estado. Não sei de pormenores, porque realmente não
participei daquilo lá e não tenho informações mais apuradas.
Mas deixa-me dizer em que se
basearam as duas rejeições de contas que o TCE votou contra mim. Eu sou o único
governador na história da Paraíba que teve contas rejeitadas. Imagine! Governar
um Estado por oito anos, quatro anos de seca, outros quatro com a maior crise
econômica que este País já viu; com queda no PIB nacional de 10% para 8% e, ao
mesmo tempo, você entregar um estado que hoje cresceu o PIB em 14,8%, quando a
média de crescimento do Nordeste foi 8,6% e a média do Brasil foi 4,8%. Um
governo que se porta desse jeito é para o TCE o primeiro governo a ter contas
rejeitadas na Paraíba. E eles rejeitaram as contas por duas questões: disseram
que eu não cumpri o índice do Fundeb com os professores, que seria 60%. Nós na
verdade cumprimos com 60,42%; nós entregamos a cópia dos empenhos.
A auditoria e o Ministério
Público disseram: “Não, aqui falta a palavra professor…” Professor em relação
aos prêmios que criei em 2011, como Escola de Valor, Professor Nota 10. Desde
2011 eles aprovaram e nunca fizeram nenhuma ressalva de que no empenho tinha
que ter a palavra professor. E se tivesse a culpa seria de quem faz o empenho e
não do governador, porque governador não faz empenho. Eles rejeitaram e, agora,
é preciso saber o seguinte: se esse dinheiro eles dizem que não foi para
professores, foi pra onde?.. Eles não têm como dizer que foi para outro canto,
porque os professores receberam o dinheiro. Então é algo que mostra claramente
que é começar pelo rim para chegar no início. Qual era o fim? Rejeitar a conta.
Qual era o início? O meio para isso era dizer que o empenho não tem uma palavra
chamada professor.
A outra questão é mais grave
ainda: eles dizem que eu criei codificados. Eu não criei codificados. Eu reduzi
profundamente o número de codificados. Eu fui o único governador que reduziu o
número de codificados, desde a década de 80, que eram trabalhadores que não
tinham qualquer direito. Era uma fonte permanente de corrupção. O que tem de
gente que dirigia hospital, que podia criar um CPF; e muita gente que, naquela
época, fazia rachadinha. Eu quebrei isso com Organizações Sociais, que é uma
estratégia que todos os Estados do Brasil usam, mas a Paraíba inventou de
criminalizar através do Gaeco.
Na essência, tem uma grande
disputa na Paraíba. Essa disputa significa setores que chamo de restauradores,
setores que tinham uma relação diferente, relação que eu mudei quando cheguei
pra governar, setores da superestrutura de órgãos, de poderes, que tinham uma
relação diferenciada, tem toda uma tentativa de me tirar da política. Não
através do voto, mas através de todo tipo de instrumento que se possa ter. E
isso no Brasil e na América do Sul, hoje não é tão conspiratório; isso é real e
concreto.
Todos sabem do papel da Paraíba,
no meu Governo, na resistência ao golpe de 2016; sabem das posições políticas
que o governador Ricardo Coutinho tinha. Eu tenho horror a político que não tem
posição; que mudou os ventos se agarra ali como se estivesse desde o início, ou
seja, essa gente não tem posição, não tem postura. Eu sempre tive postura. A
pessoa pode até discordar das minhas posturas e das minhas ideias, mas jamais
pode dizer que eu me escondi atrás de qualquer coisa. Olhem a história da
Paraíba, de governantes. E não estou fazendo críticas a eles, mas apenas
contextualizando uma situação que é diferente. Todos eles foram sempre aliados,
oficial ou extraoficialmente, ao governante de plantão. Eu fui um que não foi
aliado, e deixei isso claro. Eu não foi aliado de Temer, eu me contrapus a
golpe. Eu cumpria meu protocolos com o então presidente Temer, mas dizia
claramente aquilo que achava. Eu tinha, tenho e terei posição política porque
isso, para mim, na política é essencial, é oxigênio. E isso me custou muito
caro; me custou uma aversão, um ódio, que está explicito ai, a partir de tantos
abusos cometidos contra a minha pessoa, contra a minha família e contra o
projeto.
Veja o caso de Márcia Lucena, que
foi impedida de ganhar a reeleição de prefeita do Conde. Ninguém diz isso, mas
eu estou dizendo. Isso que está acontecendo na Paraíba impõe a Ricardo, a
Márcia, a Estela, a Cida, enfim, ao núcleo de pensamento de um projeto
político. Impõem não poder conversar entre si. Nos impôs isso durante uma eleição
municipal; eu não podia ir no Conde para apoiar Márcia, por conta de medidas
cautelares; eu não podia gravar para Márcia; e Márcia não podia sair à noite e,
portanto, não podia fazer campanha, porque durante o dia ela tinha que
trabalhar como prefeita, e no final de semana não podia sair de casa. E tudo
isso tem um foco que se chama destruir um projeto que eles não queriam. Só que
agora estão com isso nas costas sem saber o que fazer, porque chegará um
momento em que vão ter que provar e não vão provar absolutamente nada, pelo
menos no que diz respeito a mim. Isso é uma afirmação muito forte que faço,
publicamente. Eu sei por onde andei, o que faço, o que fiz e o que movimenta,
no jogo da política.
Portanto, as coisas são essas. O
Tribunal de Contas entrou nesse jogo, sim, porque está acocado por denúncias
que não sei se são verdadeiras e que criaram uma espécie de animosidade, de
modo que se eles aprovassem as minhas contas, o que seria natural, iriam dizer
que havia um conluio, porque criaram através de uma delação induzida,
claramente induzida, de que eu teria mandado uma pessoa que delatou, que tem um
grau de marginalidade alto, dizer que eu teria mandado ele contratar uma
empresa para espionar famílias de conselheiros; veja que história maluca…
Texto:
Wellington Farias
Foto: Internet