Num dia como hoje, 24 de agosto, há 453 anos, o que deveria ser um casamento para acalmar os acirrados conflitos entre católicos e huguenotes, como eram chamados os calvinistas franceses, terminou num banho de sangue sem precendentes.
Até hoje, a noite de São Bartolomeu é lembrada como a mais nefasta da História francesa.
Os noivos eram Henrique, rei de Navarra e chefe da dinastia dos huguenotes, e Margarida Valois, princesa da França, filha do falecido Henrique 2º e de Catarina de Médici. Margarida era irmã do rei Carlos IX.
Alguns milhares de huguenotes de todo o país – a nata da nobreza francesa – foram convidados a participar das festas de casamento em Paris. Uma armadilha sangrenta, como se constataria mais tarde.
Paris era, naquela época, uma cidade decididamente anti-huguenote: os católicos mais extremistas não aceitam de bom grado a presença dos protestantes.
A mãe do rei Carlos IX, Catalina de Medicis, tentou enfrentar a facção de huguenotes e por isso ordenou a morte de Gaspard de Coligny (dois dias antes do massacre), um líder huguenote que ela sentia que estava levando seu filho à guerra com a Espanha.
No entanto, Coligny foi apenas ferido, e Carlos prometeu investigar o assassinato para aplacar os furiosos huguenotes.
Catarina então convenceu o jovem rei de que os huguenotes estavam à beira da rebelião, e ele autorizou o assassinato dos seus líderes pelas autoridades católicas.
A maioria desses huguenotes estava em Paris na época, celebrando o casamento de seu líder, Henrique de Navarra, com a irmã do rei, Margarida Valois (Margot).
Uma lista das pessoas a serem mortas foi elaborada, encabeçada por Coligny, que foi brutalmente espancado e atirado pela janela de seu quarto pouco antes do amanhecer de 24 de agosto de 1572.
Assim que a matança começou, multidões de católicos parisienses, aparentemente dominados pela sede de sangue, começaram a massacre geral dos huguenotes.
Carlos emitiu uma ordem real em 25 de agosto para interromper a matança, mas seus apelos não foram atendidos à medida que os massacres se espalharam.
Os massacres em massa continuaram até outubro, atingindo as províncias de Rouen, Lyon, Bourges, Bourdeaux e Orleans.
Estima-se que 3.000 protestantes franceses foram mortos em Paris e até 70.000 em toda a França.
A matança de São Bartolomeu desencadeou uma quarta guerra religiosa entre os franceses.
Henrique de Navarra sobreviveu à noite de São Bartolomeu nos aposentos do rei, que tinha dado a ordem para o massacre. Henrique teve de renegar a sua fé e foi encarcerado no Louvre.
Quatro anos mais tarde, ele conseguiu fugir. Retornou ao seu reino na Espanha e, anos depois, subiu ao trono francês.
Henrique, que permaneceu católico, mas irmão espiritual dos huguenotes, concedeu-lhes a igualdade de direitos políticos através do Édito da Tolerância de Nantes em 1598. Uma compensação tardia para os huguenotes.
Henrique defendia a coesão do país: "A França não se dividirá em dois países, um huguenote e outro católico. Se não forem suficientes a razão e a Justiça, o rei jogará na balança o peso da sua autoridade."
A noite de São Bartolomeu é retratada no filme "A Rainha Margot" (La Reine Margot), dirigido por Patrice Chéreau, baseado na obra La Reine Margot, de Alexandre Dumas, publicado em 1845.
Há uma versão anterior (A Rainha Margot, 1954) tendo no papel principal, agora ocupado por Isabelle Adjani, a atriz Jeanne Moreau. Ambas apresentam uma versão realista da Noite de São Bartolomeu.
