Mesa
redonda, debates, exibição de filme e apresentação cultural marcam Dia
Municipal do Coco de Roda e Ciranda em Cabedelo.
Uma das manifestações artísticos-culturais mais
fortes e características de Cabedelo, o Coco de Roda, foi homenageada nesta
quinta-feira (22), dia que em que se comemorou, pela primeira vez, o Dia
Municipal de Coco de Roda e Ciranda, instituído pela Lei nº 1.890/2018.

A comemoração, organizada pela Secretaria de
Cultura (Secult), aconteceu no Centro Cultural Mestre Benedito, com um bate
papo sobre a dança e sua importância, exibição do curta “Teca do Coco” e
apresentação de coco e ciranda.
O coco de roda é uma manifestação da cultura
popular do Nordeste, fortemente identificada pela união festiva do ritmo bem
marcado e da simplicidade poética ligada às coisas do povo, à dança e ao canto.
A noite começou com a mesa redonda “O que pode o
Coco? Caminhos de lutas e resistências”, com a participação de representantes
da Secult, agentes culturais, pesquisadores, estudantes e populares. As
principais discussões e esclarecimentos foram protagonizados pela participação
da mestra cultural Terezinha Carneiro (Teca do Coco); da pesquisadora Maíra
Rodrigues; e do sociólogo e produtor cultural Alexandre Oliveira da Silva.

“Esse é o primeiro ano que comemoramos o Dia
Municipal do Coco e é muito importante abrir uma discussão como essa, porque
sabemos que, por mais que nos esforcemos, há um déficit de cultura popular na
nossa raiz e precisamos sanar isso com aprendizado. Inauguramos esse prédio com
o nome do Mestre Benedito e já estamos imbuídos com esse propósito de trazer os
estudantes e os populares para cá, com o objetivo de aproximá-los da nossa
identidade cultural. Esse é um espaço de vivência e diálogo da nossa cultura, e
o evento teve essa finalidade”, afirmou o secretário de Cultura Igobergh
Bernardo.
De acordo com os organizadores, a ideia de realizar
o Bate Papo simboliza a resistência cultura, porque visa a desconstrução de
preconceitos que são enfrentados pelas manifestações populares, especialmente
as que tem raízes africanas. Em sua fala, a mestra cultural Teca revelou as
dificuldades já enfrentadas na preservação do grupo de coco e ciranda Mestre
Benedito, que hoje representa a cidade em todo o Brasil.

“Hoje é um prazer muito grande estar aqui. Eu não
tenho estudo, o que tenho para transmitir é Cultura. Cheguei em Cabedelo em
1950 e as atividades folclóricas já eram fortes aqui, existiram outros grupos,
mas com o tempo foram se acabando. Após a morte do meu pai, sempre foi muito
difícil conduzir, porque o coco não era benquisto pelos jovens… Existia
preconceito. Tanto que uma das minhas filhas sofreu bullying na escola porque
dançava coco. Ela chegou a abandonar o grupo, porém, anos mais tarde,
reconheceu sua identidade e voltou. Hoje é ela quem tem força para coordenar o
nosso trabalho”, disse.
O secretário adjunto Heráclito Cardoso ressaltou o
diferencial dessa comemoração promovida pela Secult.
“A grande sacada é receber a comunidade e abrir um
debate que é conceitual e teórico, mas que também vai convergir com as
reflexões que são feitas a respeito do coco de roda. Não é somente uma
apresentação, tem todo um contexto que é pesquisado, estudado e as pessoas
precisam ficar sabendo disso. O coco de roda, além de ser um produto da cidade,
é também conhecimento, a academia se debruça sobre as manifestações populares e
transforma esse conhecimento em reflexão”.
Já a pesquisadora convidada, Maíra Rodrigues,
destacou a importância do tema, comentando a origem do Coco.

“O coco de roda vem dessas camadas mais populares.
Alguns acreditam que ele tem origem indígena e, outros, que é quilombola. Além
disso, sua tradição é familiar, vai passando de geração em geração e, assim
como a maioria das manifestações populares, tem essa essência de resistência.
Esse debate é muito importante, porque as pessoas precisam conhecer suas raízes
e descobrir para onde vão. Essa iniciativa da Secult é válida porque são
políticas públicas agregadas à cultura popular que valorizam as manifestações
tradicionais de uma cidade”.
O sociólogo Alexandre Oliveira, por sua vez,
destacou o caráter do evento, que se notabilizou pela abertura das discussões
do poder público com as camadas populares.
“Acredito que todo tipo de evento que mantém viva a
existência da diversidade cultural é válido. O povo se identifica com essas
manifestações e isso não pode se perder ao longo do tempo. A modernidade faz
com que a manifestação popular caia no esquecimento, e para evitar isso é
necessário que as políticas públicas se voltem para a cultura local, para que
não possam apenas ser vistas, mas sim continuadas”.
Histórico – A música que deu identidade ao rei do
ritmo, Jackson do Pandeiro, resiste atualmente no canto e na dança de inúmeros
grupos brincantes de Coco de Roda Nordeste afora. Em Cabedelo, ela faz parte do
manancial de manifestações artísticas da cidade, através do cultivo ancestral
do Coco de Roda de Mestre Benedito, do bairro Camalaú, em atividade desde os
anos 50, e formalizado como grupo a partir de 1976.
A brincadeira do coco é uma dança de roda,
acompanhada de cantoria e executada em pares, fileiras ou círculos durante
festas populares do litoral e do sertão nordestino. O som característico do
coco vem de instrumentos percussivos que marcam o ritmo acelerado, e é
complementado pelo bater de pés e pelas palmas que, muitas vezes, são os únicos
instrumentos utilizados.
Informações e
Fotos: SECOM-Cabedelo
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