Morre mãe Nazinha - Ex prostituta que abriu sua casa e dedicou sua vida no acolhimento dos pobres de Cabedelo.



Morre aos 79 anos, Cosma Francisca de França, Mãe Nazinha. “Morreu a mãe dos pobres de Cabedelo”, era o que se ouvia por toda Cabedelo no final da tarde desta sexta-feira. Aqueles que não tinham para onde ir, se dirigiam para a Casa de Mãe Nazinha e lá eram recebidos sem que nenhum questionamento fosse feito pela “Secretária de Bem-estar e Ação Social ” nomeada não por prefeito, mas por suas próprias obras e méritos.
Lá não chega a ser uma rua. É apenas uma travessa. Não chega a ser uma casa. É um casebre. Lá falta o que sobra em nossas casas: comida, roupa, conforto. É, conforto. Aquele cheirinho gostoso que tem a nossa casa, nosso quarto, nossa cama, nosso travesseiro fofinho. Lá o cheiro que domina o ambiente é o do abandono. Está impregnado por todo o lado, do piso ao teto.
É aquele cheiro forte, que nossos narizes muito sensíveis não estão acostumados. Lá não se fala em regime. É, regime, dieta, valor calórico, comer pouco, como perder sete quilos em uma semana. Essa conversa tão comum no nosso dia-a-dia, lá não existe. Talvez nem saibam o que isso significa. Agora, fale em fome, pobreza e necessidade… Ah sim, disso eles entendem.
Isso que a gente vê, vez por outra vê na TV ou do outro lado dos nossos vidros fechados, com película de transparência de 70%, portas travadas e ar-condicionado ligado. Se possível disfarçando, mexendo no toca CD ou mudando a estação do rádio. Melhor não ver. Melhor disfarçar. Melhor ignorar a pobreza que está com a mão estendida do outro lado. Afinal é tanta gente pedindo…
Indo direto ao assunto, Lá é a casa de mãe Nazinha (foto). É uma ex-prostituta que decidiu fazer da casa dela um abrigo permanente. Uma casa que abriga quem quiser, quem vier…
E ela realmente quer quem ninguém quer. É deficiente mental? É deficiente físico? É prostituta? É menor abandonado? Ninguém quer? Mãe Nazinha quer. Bendita seja ela entre a pobreza, os desvalidos, os excluídos, os esquecidos, os de ninguém.
E veja bem, com toda a sinceridade, as repetições acima não são nenhum exagero. Não ignore. Lá o cheiro é forte mesmo e não é desleixo. Lá falta comida mesmo e não há mesquinharia. Lá tem abandonados mesmo, aqueles que nossa sociedade não quer.
Estivemos lá. Nós, colegas de trabalho levamos umas roupas usadas e alimentos. Pouco, mas levamos. Não pense que eu saí de lá satisfeito, peito lavado, obrigação cumprida, consciência social aliviada. NÃO. Sai triste, envergonhado. Como eu faço pouco!
Não quero falar aqui de que isso é problema do Governo, que já pago muito imposto, que já dou uma ajudazinha no final do mês a fulano ou a beltrano. NÃO. Falo de urgência, falo de algo que está acontecendo agora, falo da realidade. De pessoas amontoadas, jogadas. Falo e mais uma vez alerto: aqui não vai nenhum exagero. Falo de uma coisa difícil de dizer, mas que é a pura verdade. Falo de lixo humano.
Confesso que não sei o que fazer, mas busquei aqui, com toda a sinceridade, usar talvez o único talento que Deus me deu, o de escrever. De mostrar que somos privilegiados e ainda reclamamos. De mostrar que, com todo o respeito, ainda fazemos muito pouco.
Sabe, sendo repetitivo, digo que não chega a ser uma rua. É apenas uma travessa. Não chega a ser uma casa. É um casebre. Mas lá está um coração maior do que toda a riqueza do mundo. Lá está Cosma Francisca de França, Mãe Nazinha, 79 anos ex-prostitua. Usa toda a renda que tem, dois salários mínimos, simplesmente para acudir os outros.
Lá fica na Travessa Ismael Farias, número 75, Cabedelo. Não chega a ser uma rua, não chega a ser uma casa, mas salva vidas. Atualmente são 46. Amanhã pode mudar, afinal há sempre alguém que ninguém quer. Ninguém, não. Mãe Nazinha quer.
Do Soltando O Verbo com matéria de José Vieira
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